domingo, 15 de novembro de 2009

Crônica de voo

Uma dúvida que sempre fica quando eu viajo de avião: por que há avisos de que os bancos dos passageiros são flutuantes, em caso de a aeronave cair no oceano?
Ora, até onde eu sei - e a opinião dos especialistas parece ir na mesma direção -, os aviões não foram feitos para descer no mar, com exceção dos hidroaviões.
O mais provável, pelo que eu ouvi ou li a respeito, caso haja essa tentativa por parte dos pilotos, é que o avião exploda ou quebre e afunde rapidamente.
Isso, com raríssimas exceções, que só confirmam a regra, como foi na vez em que uma aeronave pousou no rio Hudson, nos Estados Unidos. O piloto era um expert em segurança aérea, que conhecia como poucos o seu ofício.
Há poucos dias, outro avião tentou pousar em rio no Brasil, na região Amazônica, e algumas pessoas sobreviveram. Mas era um monomotor, portanto bem mais leve que um Airbus ou Boeing das linhas comerciais.
Ou seja, a chance de sobreviver em uma queda na água, ainda mais na velocidade normal dos grandes jatos, e próxima de zero.
Pra que então falar de bancos flutuantes? Talvez para nos encher de otimismo e vencer a travessia sem pânico. Deve ser uma forma de as companhias mostrarem que podemos confiar na segurança aérea . Dormiremos tranquilos nos nossos assentos que vão nos proteger, nos nossos sonhos.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Pipa no ar

Tive um dia de folga do trabalho e passei a tarde com meu filho de quatro anos. A gripe suína, que adiou as férias escolares, serviu para eu passar mais algumas horas com ele, e o tempo foi proveitoso.
Passei num bazar e comprei uma pipa, que há muito ele me pedia. O problema é que a dona do bazar me vendeu o brinquedo solto, sem linha para empinar e sem a rabiola, e tive de comprar esses dois itens separado no mesmo lugar.
Problema porque eu não sabia onde prender a linha, nem me lembrava que existia tirante. Mais tarde, descobri que tirante é a linha que vai amarrada em duas pontas da pipa e que ajudam essa danada a alçar voo.
Como eu descobri? Por dois caminhos: dei um google e vi que tem sites e blogs que explicam o passo a passo de como montar pipas, papagaios e outros bichos. A outra forma foi na prática, quando um dos moleques da pracinha, com PhD na brincadeira, me deu a dica: "O moço, seu tirante está do lado contrário". Nada como ouvir quem entende do assunto.
Meu filho se divertiu, embora por mais que ele tentasse, a danada teimava em não voar mais que meio metro, enquanto as dos meninos da praça alçavam o céu. Mais foi bom. Para um principiante que começou tarde o ofício e outro que mal iniciou, foi um dia pra lavar a alma.

domingo, 17 de maio de 2009

Bola de sabão

Você já viu como as crianças pequenas se encantam com simples bolas de sabão?
O que há de tão fascinante e engraçado em um brinquedo formado por um recipiente com água e detergente e uma haste de plástico com uma argola na ponta?
Quem tem filho de pouca idade pode entender um pouco da graça em soprar para fazer bolhas no ar. Há o imponderável, você nunca sabe se vai conseguir formá-las e, se conseguir, quantas vão se formar, qual será o tamanho delas e em que direção elas irão.
Há a mágica de se descobrir capaz de criar quase um universo e, depois, ter o prazer (se der vontade) de estourar sua criação e começar tudo de novo.
E o mais importante: deixar-se levar pela fantasia e pela capacidade de brincar, sem se levar a sério.
Você poderá perceber que uma criança, quando sopra uma bola de sabão, vive o presente intensamente, sorri e sente a alegria com algo simples, que não tem grife nem custa os olhos da cara.
De vez em quando, esquecer do mundo e dos problemas diários e se concentrar apenas em fazer essa brincadeira pode resultar em um dia inesquecível, especialmente se seu filho pequeno estiver a seu lado.

sábado, 2 de maio de 2009

Amizades

Ontem fiquei triste de saber que um amigo não estava bem de saúde. Embora não fossemos de relações próximas, de frequentar a casa um do outro, por exemplo, senti meus olhos marejarem diante do que me disseram.
O que tive notícia é de que, depois de passar por uma cirurgia - seu coração precisou receber um marcapasso -, ele, rapaz ainda novo, nos seus trinta e poucos anos, estava em casa pra se restabelecer e voltou a se sentir mal.
E, qual não foi a surpresa, minha e de outros, quando informaram que ele havia tido um princípio de infarto e voltado ao hospital.
Não sei dos detalhes, mas fiquei de novo com aquela sensação de que a vida, de uma hora para outra, pode nos abandonar. Com o sentimento de que nos prendemos demais a problemas menores, diante da importância das amizades e da nossa família. De que embora pensemos às vezes em coisas ligadas a poder, dinheiro e fama, tudo isso não significa muita coisa se descuidarmos dos que realmente importam e se importam conosco. E de que a vida passa rápido e, muitas vezes, deixamos ela escorrer por entre nossos dedos.

domingo, 12 de abril de 2009

Meio tempo

Jogo rolando solto na televisão, na tarde de domingo. É clássico da semifinal do Paulistão, Corinthians e São Paulo. E o pai de família dividia, com a filha e o namorado dela, o sofá. Eles não perdiam nenhum lance. Ou quase, afinal de contas, o filho mais novo, de quatro anos, teimava em receber atenção, para brincar com alguém.
O pai tinha prometido descer no playground para brincar com o menino. E a mãe cobrava, com razão: "Desce um pouco agora e volta no fim do jogo, senão depois vai ficar tarde" .
"Tá bom, no intervalo eu vou", concordou o homem.
O jogo fechou o primeiro tempo no empate.
No playground, havia outro homem que também cumpria o papel de pai, brincando de bola com as crianças. Era fácil perceber: o futebol na TV não era tão importante quanto uma tarde de brincadeiras com o filho.
Ficou a curiosidade de saber como terminaria o clássico. Mas, nada como ver uma criança brincando, sorrindo e feliz. Perder o resto da partida não foi tão duro assim. Pelo contrário, valeu muito pena.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Fruta no pé

Já experimentou subir em árvore? Pode até ser arriscado - vai que um galho quebra e você se espatifa no chão -, mas é gostoso por vários motivos.
Primeiro porque tem sabor de infância. Quem, quando criança, nunca se pendurou em algum galho para colher frutas não pode dizer que aproveitou bem essa fase da vida.
Eu me lembro das férias na fazenda dos meus avós no interior de Minas Gerais. Uma das coisas que ficaram gravadas na minha memória é justamente subir em goiabeiras, fáceis de escalar. Diferente das laranjeiras, cheias de espinho. Eu, com meus 10 anos, ia bem no alto e colhia algumas goiabas mais difíceis, que se não buscasse ficariam para os passarinhos.
Além dessas reminiscências, traz aquela sensação de liberdade, de estar em contato pleno com a natureza.
Em férias, em viagem ao interior de São Paulo, pude experimentar de novo essa sensação. Em casa com horta, deu pra colher muita mexerica, abacate e acerola. Os galhos aguentaram firme e sobrevivi pra fazer alguns sucos e vitaminas para a família. Fez bem pra saúde e pro espírito. Voltei para casa mais leve.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Carro abandonado

Hoje pela manhã, eu voltava a pé para casa e reparei num velho fusca, estacionado rente à guia, em frente ao meu prédio.
Esse carro já está ali, abandonado, faz muito tempo. Tanto tempo que juntou uma grossa camada de poeira em sua lataria. É um convite para a molecada deixar recados ou escrever o nome, como um registro para os passantes.
Não é só a sujeira que chama a atenção. Os pneus estão furados, a ferrugem já tomou conta de tudo e, o mais impressionante, há grama crescendo nos vãos dos paralelepípedos da rua, embaixo do velho Volkswagen.
Foi justamente as ervas daninhas crescendo sob o assoalho do veículo que me fizeram reparar de novo nesse automóvel esquecido por seu dono.
Isso porque o jardineiro que cuida das árvores e das plantas do meu condomínio resolveu podar a grama embaixo do carro.
Por que razão ele fez isso eu desconheço. Talvez, passado tanto tempo, esse automóvel que teima em permanecer às nossas vistas todos os dias tenha se tornado um patrimônio dos moradores do prédio, uma lembrança de velhos tempos em que circulava por aí.
Um dia, quem sabe, ele será levado na poeira do tempo, eu acorde e não o encontre mais. Por enquanto ele resiste firme. Faça chuva ou faça sol, ele se mantém lá, no mesmo lugar. E a grama deve voltar a crescer, em breve, sob seu assoalho.

domingo, 8 de março de 2009

Perguntas de um menino de três anos

O menino de três anos, quase quatro, pergunta, ao ver uma senhora distribuindo flores para mulheres, no Dia Internacional da Mulher: “Por que ela está dando flores?”
E o pai responde: “É porque hoje é o Dia da Mulher”.
O menino pensa e diz: “Quando for o Dia do Homem você também vai ganhar alguma coisa?”
O pai explica que não existe o Dia do Homem. “Mas existe o Dia das Crianças”, acrescenta. O garoto sorri, satisfeito.

...

O menino volta para casa de carro com os pais, a irmã e o namorado da irmã. No banco de trás, em sua cadeirinha, ele só observa a conversa dos adultos.
O assunto recai sobre vacinação. O pai lembra: “Precisamos vacinar nosso filho contra meningite”. O namorado da filha diz que sua prima morreu disso. E o menino: “E ela foi pro céu?”. O rapaz, sem-graça: “Deve ter ido”.

...

Alguns dias depois de um tombo em que ganhou um grande galo na testa, o garoto está intrigado sobre o que ouviu de que Deus vive no céu. E questiona o pai: “Mas se Deus vive nas nuvens, como Ele faz para descer sem cair e bater a cabeça?”

quinta-feira, 5 de março de 2009

Não estamos sós

Definitivamente não estamos sós. E só olhar ao redor, em casa, no parque, no playground do prédio. Em toda a parte podemos ver uma quantidade infinita de seres que estão próximos de nós.
Só de formigas, há pra todo gosto: grandes, pequenas, minúsculas; vermelhas, pretas, de outras cores; domésticas e as que vivem nas árvores, as inofensivas e as nem tanto; as que não resistem ao açúcar e as que vivem nas plantas, entre outras.
Há moscas, mosquitos - no calor deste verão, deixar a janela aberta à noite é convite aos pernilongos. Somos gigantes perto dessas microaeronaves que não resistem a pousar na nossa perna e fincar sua bandeira na área conquistada.
Como é difícil pensar que o mundo é dos seres humanos se não conseguimos vencer esses bichinhos tão pequenos.
E que trabalho que dá matar um pernilongo. Esse inseto parece inteligente. Em voos rasantes, quando ameaçado, rapidamente, se esconde, para depois voltar aos ataques. É uma máquina de gerra.
O que não dá é para desistir de lutar. Vamos prosseguindo com as armas que conhecemos, inseticidas, sprays, repelentes para passar na pele, pra colocar na tomada e o que mais aparecer no comércio.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

De férias

A partir de amanhã, entro de férias e vou ter mais tempo para me dedicar ao meu blog e ao tema que dá título a ele. Afinal de contas, vou ter muitas horas livres para descobrir formas de passar o tempo.
Fico imaginando como tem gente que não consegue ficar parado, pensando na vida, que é incapaz de pegar um livro pra ler e ficar a manhã toda curtindo a leitura, sem se preocupar com mais nada. Ou que resolve ficar à toa mesmo. O ócio é muito bom.
Fernando Pessoa já dizia: 'ai que prazer, não cumprir um dever, ter um livro pra ler e não o fazer'. Claro, tudo que é em excesso faz mal, mas se a gente está de folga, por que não sair por aí, dar uma caminhada, olhar para as nuvens, para os pássaros ou para uma pipa balançando ao vento, por exemplo. É incrível como a gente deixa de olhar para o céu (a não ser que esteja pra chover, é claro) quando está preso à rotina do trabalho e às preocupações diárias.
Uma constatação é que a gente aprende com as crianças, que são capazes das observações mais simples e poéticas (mesmo que elas não se deem conta disso). Um cachorro, uma pomba, uma moto, um carro de som, tudo é novo e singelo para elas. E fazem ver o mundo de outra forma, menos estressada.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Um dia à toa

Outro dia, estava pensando: 'por que não montar um blog?'. Na verdade, já tinha refletido sobre isso há um bom tempo, mas por sugestão de uma amiga, ganhei coragem. Ela me incentivou e, mesmo diante da minha dúvida - 'afinal, sobre o que eu poderia escrever?' -, ela não desanimou: 'Escreva sobre qualquer coisa, pense em um tema e vá em frente'.
Numa folga, resolvi aceitar o desafio. Mas falar sobre o quê? Podia fazer crônicas, dicas de atividades culturais, resumo de livros etc. Como jornalista é a profissão de escrever sobre tudo sem saber muito a fundo coisa nenhuma (sem querer ofender; é só uma constatação da superficialidade geral que permeia a atividade), achei melhor escolher todos os assuntos ao mesmo tempo. Ou seja, falar o que der na telha, como dizem. Por isso o nome 'Pra passar o tempo'.
Como o nome já diz, para eu passar o meu tempo e, eventualmente, fazer alguém perder o tempo com essas mal-traçadas linhas. Sem pretensões, nem ambições. O velho chavão (bota velho nisso) diz que a vida não está completa se a gente não 'tiver um filho, escrever um livro...'. Bom, na era digital, em vez de um livro, criar um blog já está de bom tamanho, eu acho.